sábado, 14 de fevereiro de 2015

O desespero


O Sporting ficou muito indignado com uma tarja que viu num jogo de futsal. A tarja era tão grave, tão grave, que o Sporting reagiu imediatamente. "Imediatamente" no dia imediatamente a seguir.

Não quero aqui discutir se a tarja era ou não era condenável. Se tinha antecedentes ou não tinha antecedentes. Era uma tarja, não era uma arma de destruição massiva. O Sporting fez a figura de um radical islâmico a protestar contra os cartoons de um jornal qualquer. Definitivamente, SCP não são as iniciais de "Somos Charlie. Ponto".

Foi perceptível para todos a razão de ser do comunicado do Sporting. O golo de Jardel caiu-lhes muito mal. Durante 7 minutos estiveram no Céu e de repetente estatelaram-se no fundo de um fosso. Falando em "estatelar-se no fundo do fosso", esse foi o incidente mais grave nessa noite. Um adepto feriu-se com gravidade, na sequência de comportamentos menos correctos de pessoas que dizem que sabem estar, combinados com debilidades estruturais de um recinto que não oferece condições de segurança a quem quer assistir aos espectáculos aí organizados. Podia ter morrido. E não foi a primeira vez que isto aconteceu. E em nenhuma das vezes se pode sacudir a água do capote para cima de uma claque visitante. Havia, pois, que desviar as atenções da frustração de um resultado desportivo e das responsabilidades por mais um acidente grave naquele estádio.

O Sporting parecia aquela namorada que, numa discussão, vai buscar um detalhe que aconteceu há 3 meses. A propósito de um jogo de futebol disputado em Alvalade num domingo, foi buscar algo que se passou num jogo de futsal disputado na Luz num sábado. E exige que o estádio do futebol onde não se passou nada seja fechado por algo que aconteceu no pavilhão do futsal.

O Benfica respondeu inicialmente como qualquer pessoa com dois dedos de testa responde àquela histérica a que aludimos no parágrafo anterior – encolheu os ombros e suspirou: "Acabou o blackout, voltou o folclore." A resposta até foi muito leve, mas o Sporting entendeu-a como very light.

Pronto, caiu o Carmo e a Trindade (presume-se que ao fundo de um fosso). A resposta foi tão bem dada, que lhes saiu um muito adulto "Ai, é? Nunca mais te falo!". E dá-se o corte de relações.

A resposta que Vieira dá é demolidora. Inaugurando mais uma casa do clube (não inaugurando mais um post no Facebook), dá uma coça de todo o tamanho ao jovem da Juve Leo que ocupou a tribuna. Vale a pena ouvir o rolo compressor, a partir do minuto 4:



A propósito de tribuna, note-se que ainda João Gabriel não tinha sido obrigado a falar em fandango, ainda Jardel não lhes tinha dado um banho de realidade, já o corte de relações institucionais se verificava no camarote presidencial de Alvalade, com o tratamento indigno dado à comitiva benfiquista, que levou mesmo alguns dirigentes leoninos com mais vergonha na cara a pedirem desculpa pelo comportamento que eram obrigados a assumir, mas que era a política do clube.

E, para se darem conta do desespero desta gente, Vermelho Directo sabe, de fonte segura da própria RTP, que o Sporting andou toda a semana a pressionar a estação pública para exibir imagens da tarja do very light. Até à porta do anterior presidente, Alberto da Ponte, foram bater!

Percebe-se assim melhor porque é que a RTP foi entrevistar o filho de Rui Mendes e não quis saber da opinião das famílias de todos os adeptos que já caíram de estruturas de Alvalade, seja de fossos, seja de varandins.

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