segunda-feira, 16 de março de 2015

A norte, tudo de novo

"É público que há uma campanha ruidosa contra os árbitros promovida por um clube português. O objetivo é claro e assumido, condicionar e coagir o seu trabalho na fase final da liga."

Estas são palavras de há não muito tempo do director de comunicação do Benfica que vêm na sequência de outro alerta de um vice-presidente do clube para a mesma situação. Significa isto que o Benfica está a reagir no mesmo tabuleiro a quem se vê forçado a jogar fora de campo para tentar corrigir o que não corre tão bem no relvado. Aplaudimos daqui que também os nossos engravatados metam o pé à bola.

Esta campanha é óbvia e notória, como óbvio e notório é o seu promotor e principal interessado. O Sporting faz apenas coro, movido pelo ódio que nos tem, sem cuidar que canta a cantiga do outro (letra e música). Petições ao Presidente da República são apenas folclore. Os erros de arbitragem que são comuns em todos os campos do país, beneficiando ora uns, ora outros, prejudicando ora outros, ora uns, são transformados na narrativa do colinho ao líder. Repare-se, por exemplo, que, quando o FCP vence em Penafiel com 3 golos irregulares, não se fala em colinho para ninguém. Quando o V. Guimarães vê 3 vermelhos na mesma partida, não se fala em colinho para ninguém. Mas veja-se o que se diz quando um jogador do Arouca é naturalmente expulso por não ter argumentos para deter a avalancha ofensiva do Benfica, que já vencia por 2-1:

O recorte é de uma primeira página recente do JN, mais um dos pontas-de-lança da campanha. Repararam como subtilmente se tenta passar a ideia de que Jonas e Lima garantiram a vitória só depois de o Arouca ficar com dez? É o refrão da tal cantiga. Se insistirem mais um bocadinho, não sairá do ouvido das pessoas. Dizem que o Guimarães terminou com 8, facto noticioso mais raro? Não dizem.

E há quanto tempo não aparecia Secretário na imprensa portuguesa? Para aí desde o Caso Paula, em 1997, não? Apareceu no outro dia. Para dizer o quê? Para fazer uma participação especial na tal cantiga de embalar. Como bem diz Secretário, "está à vista de todos".

E este vídeo do Árbitro de Bancada deixa à vista de todos a justeza das expulsões que têm acontecido até ao momento nos jogos do Benfica.

Mas...

Mas há um pormenor que não está à vista de todos: o FCP estará realmente a fazer isto para condicionar a arbitragem e daí tirar dividendos?

Quem acompanha o futebol português há 30 anos sabe que não é assim que o FCP condiciona a arbitragem e tira dividendos. O que se estará a passar de diferente? O que se passa de novo a norte? Já lá vamos. Antes, recordemos o início da época:


Lembras-te, Amílcar?

Ainda não tinha terminado a época 2013-14, já o Benfica via sair Matic em Janeiro e hipotecara Rodrigo e André Gomes. Ainda não tinha começado a época 2014-15, e mais heróis do triplete diziam adeus à Luz. Como Cardozo. Como Siqueira. Como Garay. Como Markovic. Como Oblak. E como Enzo. Como Enzo, não. Como Enzo, sim. Não, como Enzo, ainda não. Era o tempo do "estão a desmantelar o campeão nacional!", lembras-te, Amílcar?

Como se não bastasse, os reforços não tinham nomes sonantes, não faziam sonhar ninguém. Como se não bastasse, não pegaram de estaca, precisaram de se adaptar, de perceber o que Jesus pretendia deles, de se entrosar com companheiros que estavam a sentir as mesmas dificuldades. Como se não bastasse, os jogos de pré-época não entusiasmaram ninguém. Lembras-te, Amílcar?

"Não entusiasmaram ninguém"... não é bem assim. Os nossos rivais ficaram entusiasmadíssimos. O Sporting até nos ganhou uma Taça de Honra e chegou a pensar que tinha conseguido o melhor tempo dos treinos e que isso lhe permitia partir da pole position. Lembras-te, Amílcar?

Mas a candidatura de Alvalade era aquilo a que o primeiro-ministro chamaria um conto de crianças. Só os inocentes acreditavam. Quem se encheu de fundadas esperanças foi o clube que foi buscar um técnico que era campeão do mundo e lhe deu o melhor plantel dos últimos 30 anos. Gastaram-se rios de dinheiro. Craques da liga espanhola, com nome feito, bem reflectido no valor do passe. Mesclados com alvos desviados do Benfica, que até nesse particular se via enfraquecido, tendo de partir para segundas escolhas. Não havia dúvidas, este campeonato seria um passeio para o FC Porto. Lembras-te, Amílcar?


Abriu-se o melão

Pois bem, depois de aberto, o melão viria a ter um sabor completamente diferente do que se esperava. O Benfica vem agarrado ao 1.º lugar há 21 jornadas consecutivas. E com números que suplantam os melhores recordes de toda a era Jesus. E este ano não há outras taças a lesionar ou a desgastar jogadores, é um foco quase absoluto no campeonato – no bicampeonato.

E o FCP? Pois é, para quem pensava que eram favas contadas, é afinal um grande melão. O FCP apostou todas as fichas nesta época, gastou o que tinha e o que não tinha, fez engenharias financeiras para que não houvesse desculpas: quem Lopetegui quis, Lopetegui teve. E o resultado? Ainda não acabou, mas perspectivas realistas apontam para um grande risco de o all-in redundar em mãos a abanar, zero títulos, bancarrota.

E, se isso acontecer, de quem é a culpa?

Parece-me que é aqui que entra a campanha. A culpa é dos malditos árbitros que levaram o Benfica ao colo.

E esta desculpa serve para quê?

Serve para virar o bico ao prego. Serve para calar a revolta de quem há muito tempo não está habituado a ficar duas épocas seguidas a seco.

Depois daquele ano de Paulo Fonseca, que foi mais vítima do que culpado (Manuel José disse que só lhe deram tremoços), ficou a nu que a estrutura do FCP já não é o que era. Se neste ano foram buscar um campeão do mundo, lhe dão marisco e conseguem fazer ainda pior que na época anterior, está aberta a brecha por onde entrará um dado novo no futebol português dos últimos 30 anos: a luta pela presidência do FCP.

Porque este FCP alimentou durante 30 anos um polvo que, aparentemente, não tem sabido renovar os seus tentáculos. Porque há gente que se habituou a um estilo de vida que nos últimos tempos tem tido dificuldade em manter. Seja o árbitro corrupto, seja o dirigente cúmplice, seja o facilitador de negócios, seja o fornecedor, seja a guarda pretoriana, seja o mero adepto que costumava ir mais vezes festejar para os Aliados, todos aqueles que eram habituais beneficiários notam a diferença dos tempos actuais. Todos eles estão desejosos de recuperar o que perderam. Todos eles estão dispostos a acreditar no primeiro arrivista que lhes prometer o regresso a esses tempos. E essa é uma corrida que começará assim que esta época terminar como os benfiquistas esperam que termine.


Mas, então, porque é que o FCP não faz como nos últimos 30 anos?

No meu entender, porque a BTV cortou a ração ao polvo.

Repare-se que não se está a dizer que o polvo agora é do Benfica. O Benfica não tem nenhum polvo. O polvo que existe ainda é azul e branco, mas está moribundo e já não consegue dar colo a uns ao mesmo tempo que afunda outros. O melhor plantel do FCP dos últimos anos não é o de Jackson e Brahimi. É o que contou com os Calheiros, os Guímaros, os Fortunatos, os Olegários e os Proenças. Desde que a BTV passou a explorar os direitos televisivos do Benfica, deixou de haver orçamento para os seus sucedâneos. Se nos 2 primeiros anos de Sport TV sem SLB conseguirmos o bicampeonato que nos foge há décadas, não terei dúvidas em relacionar uma coisa com a outra.

Nos tempos que correm, os jogadores e o que os treinadores conseguem extrair deles têm mais influência do que dantes, porque aquela teia de esquemas que viciava tudo – dos árbitros que inclinam campos, das bolas frias, dos calendários à medida, dos chitos, dos jogadores emprestados, dos treinadores que são ex-jogadores que abrem pernas – definha, sufoca e, agora, estrebucha com a campanha do colinho. O polvo ainda não morreu, mas já respira com dificuldade.



9 comentários:

  1. Quem é esse crlho do Amílcar?

    O secretário parece um leitão pôdre para deitar a assar no forno.

    Viva o Benfica!

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  2. Grande post mas cheio de se's... vamos aguardar, estou confiante mas nunca confiando, desde que vi um porco a andar de bicicleta já acredito em tudo, e olha que o sistema ainda está bem vivo, mas a diferenças é que o Benfica está muito mais forte e imune ás pressões e ás 1001 palhaçadas que têm criado desde o início desta temporada.
    Raça, querer e ambição.
    Saudações.

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  3. Este blog nao 'e muito activo mas quando as lights estao on, tu arrasas! Muito boa a linha de pensamento a ver se o bi vem mais cedo que tarde para confirmar a morte lenta que se quer rapida do polvo!!

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  4. Excelente análise. Que venha o Bi campeonato!

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  5. Caro VD,

    Quem é o Amílcar?

    Saudações Gloriosas.

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  6. Grande texto! Grande texto! Grande texto! O Amilcar lembra-se disso tudo porque tem memória de elefante!

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  7. Digamos que o Amílcar sabe quem é o Amílcar e o recado está dado. ;)
    Para quem não sabe quem é, o Amílcar pode ser qualquer um dos nossos que pôs tudo em causa no início da época.

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  8. Bom texto e grande explicação sobre quem é o Amílcar! O apelido por acaso não é Alho?

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